Mudanças

     Em sua origem, a vã filosofia humana já nos fazia refletir sobre a fluidez da vida e a forma como sempre buscamos evoluir rumo a um futuro desconhecido. Mudamos e nada pode impedir esse fenômeno. Mudamos nosso modo de agir, nossa forma de arrumar a casa e até o lugar onde moramos. Mudamos para recomeçar, bagunçar ou atingir um objetivo.
      Confesso: vivo esse momento de transmutação. Vivo nessa linha tênue que separa o conforto da novidade. Esse turbilhão de emoções que me fazem repensar a vida através de fórmulas complexas e instantâneas.
      Sinto aquele friozinho na barriga e acredito que é uma peça fundamental desse momento. Uma dorzinha congelante que se divide entre o desejo de mudar e o medo de fazê-lo. O novo empolga a alma (a qual rodopia e pula sem parar), mas gera também desconfiança. Juntas, essas emoções nos faz vivenciar de forma plena a mudança e acabam por sempre fazer-nos pesar as consequências e optar pelo melhor caminho.
      A trilha, contudo, não será necessariamente simples e pode trazer a tona sentimentos dolorosos entre suas pedras. A dor vai existir, mas como uma lagarta que um dia irá se metamorfizar em uma borboleta, trilhará o presente sem contudo esquecer as marcas do passado. Assim será com os católicos, os quais vão ter que entender a renúncia do papa como algo que pode representar um caminho de renovação na Igreja. Assim será com as testemunhas do massacre em New Town, que agora transformam memórias sanguinolentas em uma luta para o fim de mortes como essas nos E.U.A. Assim será com os sobreviventes da boate Kiss e suas assombradas lembraças.
      Darwin já descrevia a evolução como algo impreciso, inseguro e desigual. Da mesma forma são as mudanças: não sabemos de que forma elas ocorrerão, não sabemos se elas trarão benefícios ou malefícios e não sabemos os seus resultados. A única coisa que sabemos é que podemos suavizar o percurso, tornando-o mais facilmente trilhável. Os ponteiros andam sem parar e devemos acompanhá-los custe o que custar

Carta à mãe

Aracaju, 13 de maio de 2012



Mãe,

      Muitas felicidades pelo seu dia. Ele representa a alegria de tê-la sempre ao meu lado. 
      Nossa história de amor começou no dia 04/03/1990. Foi amor à primeira vista. No momento que senti o calor do seu corpo e o carinho emanado pela sua voz, eu soube que nosso caso seria eterno. Você me acariciou nos momentos de fraqueza, me ajudou nos dias tristes e curtiu comigo lembranças alegres e inesquecíveis. Foi seu sorriso majestoso - o qual, aliais, sempre surgia na oportunidade certa - que me fez galgar sempre para um futuro melhor.
      Assim como o caule que sustenta uma rosa, você serve de suporte para toda a nossa família. Com sua força e perseverança, nosso mundo se torna mais humanizado e sincero. Você nos protege nas horas certas e nos mostra esse mundo cão na mesma medida. Como na fábula "Os Gravetos" de Esopo, você une o nosso feixe de gravetos evitando que não se partam com uma simples inflexão, pois sabe que um solitário graveto não suporta a menor das forças.
      Seu coração é " um verdadeiro coração de mãe". De tão grande, consegue acolher todos os que necessitam da sua ajuda. São seus trabalhos voluntários e sua caridade para com o próximo que a faz ser um diamante num mar de pedras. Você tem essa necessidade de tornar esse planeta um lugar mais justo e integro. Um planeta onde as desigualdades podem deixar de existir. Além disso, sua experiência com crianças é algo a ser reconhecido. Você as ensina desde o primeiro dia de aula que sua sala é um lugar aberto para todo o tipo de opiniões e pensamentos. Ninguém é recriminado simplesmente porque se atrasou numa cópia ou pediu suas simpáticas explicações 200 vezes. Acredito que os desenhos coloridos, feitos a mão, no cabeçalho de todas os folhas de monobloco, era uma estratégia mágica de fazer-nos expressar com a forma mais simples de escrita, além de mostrar nosso potencial criativo. Sei que eram os alunos mais problemáticos, aqueles que te desafiavam mais na sua carreira, os inspiradores do seu ensino. Você não desistia deles até os entender tão a fundo e os ajudar como se fossem seus filhos. Por conta disso, formou grandes profissionais, que mesmo após anos, reconheciam na senhora o ser que os preparou para a vida.
     "Debaixo dos caracóis do seu cabelo", sei que há uma MÃE. Uma mulher maravilha capaz de nos salvar do pior dos monstros, acalmar o maior dos medos, enfrentar todas as angústias e ainda achar um tempinho para se bronzear. Por tudo isso, mãe, resumo em poucas palavras meus sentimentos:

Te amo!

Atenciosamente,

Seu filho
      

Uma chapeuzinho sem lobo, um Monteiro sem Anastácia



BRASIL!

      País de proporções continentais! 6ª maior economia do mundo! Lar de belezas naturais diversas! Centro disseminador de uma censura que apesar de vestida como ovelha não passa de um lobo feroz encapuzado!
      Essa Gestapo chamada de  "Politicamente Correto", coberta pela manta do respeito e da diversidade, diz querer uma neutralidade linguística (uma linguagem sem preconceitos e discriminação). Uma bonita bandeira que acabou por ultrapassar os limites do bom senso e serve de pretexto para reabrir a DIP e criar um eufemismo para discursos de ódio. Como exemplo desse fato, tem-se o dicionário Houaiss. Por conter entre os seus verbetes definições pejorativas de termos como cigano (pej.: “que ou aquele que trapaceia; velhaco, burlador”) e baiano (pej.: "tolo, negro, mulato, ignorante, fanfarrão"), sofreu ações judiciais que pretendiam proibir sua venda e a exclusão dessas definições. Uma vergonha. Outro importante exemplo, foi o livro Caçadas de Pedrinho, escrito por Monteiro Lobato. O Conselho Nacional de Educação (CNE), tentou, mas não conseguiu, vetar o livro como leitura para escolas públicas por conta de trechos desencontrados ("Não vai escapar ninguém - nem Tia Nastácia, que tem carne preta.").
      Como qualquer dicionário publicado, o Houaiss apenas contém definições - sejam elas boas ou ruins. O filólogo não pretendeu justificar ou propagar o preconceito, mas tão somente relatar que aquelas palavras, como tantas outras, já tiveram esse tipo de significação. Já em Caçadas de Pedrinho, o fato de conter frases racistas não deve ser o motivo de um veto. O livro deve cumprir seu papel de debater os antigos preceitos que rondavam a sociedade brasileira e compará-los aos que temos hoje. Ao se vetar essa obra-prima da literatura infanto-juvenil lobatiana, perde-se, além dos motivos anteriores, a oportunidade de se aprofundar no mundo fantástico do Sítio do Pica Pau Amarelo e nos ensinamentos que podem ser tirados daí.
      O problema não são as obras, as propagandas ou os humoristas, e sim os ouvintes. Lógico que Monteiro ao criar suas obras estava, por exemplo, sendo influenciado por preceitos racistas do determinismo e do positivismo. A propagação, porém, dessas e outras ideologias cabe aos receptores da mensagem. Com uma educação baseada na diversidade e na igualdade,dificilmente um livro, assim como dicionários e outras mídias, se tornaram "Mein Krampf" em potencial.

Obs.: Esse post apenas demonstra uma opinião. Há vários referenciais para um mesmo fato.


" Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la."                           (Voltaire)