Brasil: Um caldeirão

  

      Nos meus tempos de criança, o jogo de panelas deixados pela minha vó ao ar livre me faz lembrar de almoços estonteantes e deliciosos. Ela, em dias especiais, pegava sua melhor prataria, seus melhores pratos e seu fiel escudeiro: o caldeirão. Era nele que misturava todos os ingredientes da sua famosa moqueca e seu amado caruru (porém como todo enjoado, preferia ficar na base do camarão e do arroz). É com essa imagem infantil, que comentarei um fato que me chamou atenção há algumas semanas. Um certo representante dos países nórdicos afirmou que vivemos num mar de lama por conta da nossa mistura racial. De acordo com ele, nascemos para o fracasso por não termos uma "raça homogênea".
      Será esse o problema do Brasil? Finalmente alguém achou o ingrediente secreto do nosso vatapá? A resposta é simples: NÃO! Um não envergonhado e enraivecido. Um não que merece ser divulgado e estampado.
      Nascemos em um país, que desde os seus primórdios, sobrevive a base de uma mistura étnica onde nosso sangue tupiniquim é juntado com membros lusitanos, traços negros e detalhes asiáticos. Um caldeirão fervente recheado de ingredientes variados que resultaram nessa fantástica espécime: o brasileiro. Ser humano indomável, corajoso, sofredor e inocente. Inocente sim, pois viveu - em mais de 500 anos de história - menos de 50 anos em um regime democrático de governo. Fato esse, que causa o nosso chamado "subdesenvolvimento" e nos prende nesse mar de lama. Mas isso já é assunto para outro dia.
      Devemos curtir nossa pluralidade. Curtir essa "Casa Brasileira" recheada de bugigangas, tambores, cultos, panelas de barro, pés-de-moleque, feijoada, amores e belezas.