Mudanças

     Em sua origem, a vã filosofia humana já nos fazia refletir sobre a fluidez da vida e a forma como sempre buscamos evoluir rumo a um futuro desconhecido. Mudamos e nada pode impedir esse fenômeno. Mudamos nosso modo de agir, nossa forma de arrumar a casa e até o lugar onde moramos. Mudamos para recomeçar, bagunçar ou atingir um objetivo.
      Confesso: vivo esse momento de transmutação. Vivo nessa linha tênue que separa o conforto da novidade. Esse turbilhão de emoções que me fazem repensar a vida através de fórmulas complexas e instantâneas.
      Sinto aquele friozinho na barriga e acredito que é uma peça fundamental desse momento. Uma dorzinha congelante que se divide entre o desejo de mudar e o medo de fazê-lo. O novo empolga a alma (a qual rodopia e pula sem parar), mas gera também desconfiança. Juntas, essas emoções nos faz vivenciar de forma plena a mudança e acabam por sempre fazer-nos pesar as consequências e optar pelo melhor caminho.
      A trilha, contudo, não será necessariamente simples e pode trazer a tona sentimentos dolorosos entre suas pedras. A dor vai existir, mas como uma lagarta que um dia irá se metamorfizar em uma borboleta, trilhará o presente sem contudo esquecer as marcas do passado. Assim será com os católicos, os quais vão ter que entender a renúncia do papa como algo que pode representar um caminho de renovação na Igreja. Assim será com as testemunhas do massacre em New Town, que agora transformam memórias sanguinolentas em uma luta para o fim de mortes como essas nos E.U.A. Assim será com os sobreviventes da boate Kiss e suas assombradas lembraças.
      Darwin já descrevia a evolução como algo impreciso, inseguro e desigual. Da mesma forma são as mudanças: não sabemos de que forma elas ocorrerão, não sabemos se elas trarão benefícios ou malefícios e não sabemos os seus resultados. A única coisa que sabemos é que podemos suavizar o percurso, tornando-o mais facilmente trilhável. Os ponteiros andam sem parar e devemos acompanhá-los custe o que custar